23 de setembro de 2008

Amor e Apego

Esta lenda dos índios Sioux mostra de forma simples e criativa qual é o segredo para se ter um relacionamento de amor duradouro e feliz :
             
        "Vida Amarrada
Conta uma velha lenda dos índios Sioux, que uma vez, Touro Bravo, o mais valente e honrado de todos os jovens guerreiros, e Nuvem Azul, a filha do cacique, uma das mais formosas mulheres da tribo, chegaram de mãos dadas, até a tenda do velho feiticeiro da tribo...

- Nós nos amamos... e vamos nos casar - disse o jovem. E nos amamos tanto que queremos um feitiço, um conselho, ou um talismã... alguma coisa que nos garanta que poderemos ficar sempre juntos... que nos assegure que estaremos um ao lado do outro até encontrarmos a morte. Há algo que possamos fazer?
E o velho emocionado ao vê-los tão jovens, tão apaixonados e tão ansiosos por uma palavra, disse:
- Tem uma coisa a ser feita, mas é uma tarefa muito difícil e sacrificada... Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte ao norte dessa aldeia, e apenas com uma rede e tuas mãos, deves caçar o falcão mais vigoroso do monte... e trazê-lo aqui com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia. E tu, Touro Bravo - continuou o feiticeiro - deves escalar a montanha do trono, e lá em cima, encontrarás a mais brava de todas as águias, e somente com as tuas mãos e uma rede, deverás apanhá-la trazendo-a para mim, viva!

Os jovens se abraçaram com ternura, e logo partiram para cumprir a missão recomendada... no dia estabelecido, à frente da tenda do feiticeiro, os dois esperavam com as aves dentro de um saco.
O velho pediu, que com cuidado as tirassem dos sacos... e viu eram verdadeiramente formosos exemplares...
- E agora o que faremos? - perguntou o jovem - as matamos e depois bebemos a honra de seu sangue? Ou as cozinhamos e depois comemos o valor da sua carne? - propôs a jovem.
- Não! - disse o feiticeiro, apanhem as aves, e amarrem-nas entre si pelas patas com essas fitas de couro... quando as tiver bem amarradas, soltem-nas, para que voem livres...
O guerreiro e a jovem fizeram o que lhes foi ordenado, e soltaram os pássaros... a águia e o falcão, tentaram voar mas apenas conseguiram saltar pelo terreno. Minutos depois, irritadas pela incapacidade do vôo, as aves arremessavam-se entre si, bicando- se até se machucar.
E o velho disse:
- Jamais esqueçam o que estão vendo... este é o meu conselho. Vocês são como a águia e o falcão... se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se, como também, cedo ou tarde, começarão a machucar-se um ao outro... Se quiserem que o amor entre vocês perdure... voem juntos... mas jamais amarrados".
Lindo, não é mesmo?
O velho feiticeiro ensinou a Touro Bravo e Nuvem Azul que o segredo para se ter uma relação amorosa duradoura e feliz está no desapego. Desapegar-se não é ser indiferente e sim ter consciência de que ninguém é dono de ninguém. E que não se pode controlar, nem culpar nem tentar mudar a outra pessoa. É deixar o companheiro desfrutar de sua individualidade e liberdade.
Numa relação de amor, o apego pode até ser visto, inicialmente, como algo romântico. Frases como: ‘não sei viver sem você’, ‘só você me faz feliz’, ‘você é o sol da minha vida’ , ‘minha vida só tem sentido contigo’, ‘Tudo o que eu faço é por você’, ‘você é tudo para mim’, Tu és a coisa mais importante da minha vida’, ‘eu preciso de você’, entre outras, são vistas como declarações de amor. Mas, com o tempo, a pessoa que se apega idealiza o amado, ficado obcecada por ele, o vê como algo que a completa e se torna dependente emocionalmente dele.
Este apego é uma forma imatura de amar. A pessoa busca a felicidade e segurança fora de si mesma e cria uma amarra que gera o medo: medo da solidão, medo de perder quem lhe dá prazer, medo de ser abandonada, medo de não ser amada, medo de perder o controle do outro, etc. Pensar na separação traz angústia. Com isto, a relação vira uma prisão: a pessoa apegada se anula, deixa a sua vida de lado para viver a vida do outro. Tem o desejo de domínio integral do parceiro. Trata-o de forma autoritária, quer adaptá-lo ao seu modo de ser e de viver, quer determinar o que ele pode ou não fazer. Não permite que ele viva a sua própria vida. O ciúme exarcebado de quem se apega sufoca o companheiro e sua possessividade tira a liberdade dele.
A relação vira palco de conflitos. Na lenda Sioux, isto é descrito como :
"a águia e o falcão, tentaram voar mas apenas conseguiram saltar pelo terreno. Minutos depois, irritadas pela incapacidade do vôo, as aves arremessavam-se entre si, bicando- se até se machucar”.
Por isto, é necessário desapegar-se. Então, vale reforçar a moral desta lenda:
"E o velho disse:
- Jamais esqueçam o que estão vendo... este é o meu conselho. Vocês são como a águia e o falcão... se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se, como também, cedo ou tarde, começarão a machucar-se um ao outro... Se quiserem que o amor entre vocês perdure... voem juntos... mas jamais amarrados.”

Voar juntos, sem estar amarrados, é cada um preservar a sua própria identidade, respeitando e compreendendo o jeito de ser do outro. É amar sem cobrar nada em troca. É encontrar a felicidade dentro de si e compartilhá-la com o companheiro. É ser livre e deixar o outro também ser, porque há confiança em si e no parceiro.
Enfim, a lógica do relacionamento feliz e duradouro é 1 + 1 = 1 e não metade + metade = 1. Pense nisto!

(Autoria: Marta Betania - 23/9/2008)

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